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Jorrando

“Para ver bem são-nos necessárias - paradoxo da experiência - todas as nossas lágrimas.”
Georges Didi-Huberman, Ninfa Moderna


Jorrando é uma exploração dos desdobramentos simbólicos das lágrimas e do choro. O projeto parte de minha pesquisa sobre feminilidade, loucura e amor para aprofundar-se nas esferas do ridículo, do terrível e do romântico. Para onde os trilhos das lágrimas nos podem levar?

 


Meire, que é muda e feroz, e patética, e que não chora 
2024
Óleo sobre tela
70 x 70 cm


Estandarte
2024
Bastão de óleo e grafite sobre algodão cru
250 x 122 cm




Virgem de Macarena
2023
óleo sobre tela
100 x 100 cm

    


Shoro Fisiológico
2023
vídeo digital

02"36'
Criado e realizado por Mariana Poppovic
Dirigido por Roger Valença




Dolorosas


Mater Dolorosa é o nome dado às estátuas espanholas de Nossa Senhora que têm lágrimas de resina escorrendo pelas faces. Seus diversos apelidos, cada um relativo ao aspecto de sua dor, amparam as dores de seus milhões de fiéis e devotos – Nossa Senhora das Dores, da Piedade, da Soledade, das Angústias, da Agonia, Nossa Senhora do Pranto.

Se Jesus Cristo morre pelos pecados de toda a humanidade, oferecendo seu eterno perdão em contraponto ao pai, o eterno castigo, sua mãe empresta-nos não somente o grande colo, para que afoguemos nossa eterna criancice, mas também nutre-nos com suas colossais lágrimas de colostro, chorando não por nós, mas em nosso lugar. Quando pedimos à Nossa Senhora que cuide de nós, o que queremos é a validação do paradoxo do sofrimento – a delícia de sofrer uma dor aliada ao alívio de ver que alguém sofre, mas nós não.

Outra figura que expia nossa dor, de forma análoga e perfeitamente oposta à de Nossa Senhora, é a do palhaço. Esse sujeito que, com seu nariz vermelho – talvez de chorar, talvez de afogar a eterna criancice numa mamadeira de cachaça – sacrifica publicamente, em nosso lugar e por nós, sua dignidade. Ao vermos o palhaço falhar de novo e de novo, e o glorioso absurdo de seu fracasso repetido, num crescendo equivalente ao gozo religioso, choramos de rir.

Meire Bobeire é o nome de minha palhaça, que vez por outra me possui e constantemente me vindica. 

︎ ︎  ︎
© Mariana Poppovic 2023